quarta-feira, 5 de julho de 2017

O conhecimento inconsolável


"No dia do enterro da sua mãe, C. foi picada por uma abelha. Estava muita gente no pátio da casa da família. Vi C., no íntimo dos seus quatro anos, ser surpreendida primeiro pela dor que a picada lhe provocara; a seguir, mesmo antes de começar a chorar, buscar avidamente com os olhos, por entre todos os que ali estavam, aquela que desde sempre a consolara, e parar bruscamente essa procura, por, de repente, ter compreendido tudo acerca da ausência e da morte. Esta cena, que durou apenas alguns segundos, é a mais pungente que jamais vi.

Existe para cada um de nós uma determinada hora em que o conhecimento inconsolável nos invade a alma e a despedaça.
É à luz dessa hora, já chegada ou não, que todos nós nos deveríamos falar, amar, e se possível, rir juntos."

Christian Bobin, in "Ressuscitar"

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